SIGNIFICADO E USO DAS PARÁBOLAS NO ENSINO
DE JESUS
Jorge,
Antonio Rafael Coelho (ETCS)
1 Introdução
As parábolas são uma forma de ensino
muito comum no ministério de Jesus e por isso de extrema importância para a
compreensão de sua mensagem. Mateus assim escreve: “Todas estas coisas disse
Jesus às multidões por parábolas e sem parábolas nada lhes dizia; para que se
cumprisse o que foi dito por intermédio do profeta: Abrirei em parábolas a
minha boca; publicarei coisas ocultas desde a criação [do mundo]” (Mateus
13:34-35).
As parábolas constituem um terço do
ensino de Jesus nos evangelhos sinóticos (Osborne, 2009) e por isso devem ser
estudadas com cuidado e bastante precisão para se entender o seu significado. O
uso que Jesus faz das parábolas pode ser devido a sua simplicidade em
entendimento para o público em geral, pois geralmente eram histórias extraídas
da realidade diária que produziam no público uma identificação com as
personagens (Kaiser & Silva, 2009).
Por isso, devido ao seu contexto
histórico-cultural as parábolas muitas vezes são mal compreendidas em nossos
dias, esse ensaio por sua vez, tem como objetivo mostrar métodos de
interpretação hermenêutica para uma melhor compreensão das parábolas em sua
verdadeira essência.
2 O que são parábolas?
Antes de entender o significado que
as parábolas possuem no ensinamento de Jesus, precisamos compreender o que significa
parábolas. Muitos autores se propuseram a definir esse recurso bastante
utilizado no ministério de Jesus, e sabemos que não é uma tarefa fácil definir
esse método complexo de ensino como as parábolas. De acordo com o dicionário
bíblico universal, Bucklan & Williams (2007, p.446):
“Parábola é uma narrativa imaginária ou verdadeira que
se apresenta com o fim de ensinar uma verdade. Difere do provérbio porque sua
apresentação não é tão concentrada como a daquele; contém mais pormenores,
exigindo menor esforço mental para ser compreendida. Difere da alegoria, porque
esta personifica atributos e as próprias qualidades, ao passo que a parábola
nos faz ver as pessoas na sua maneira de proceder e viver, também difere da
fábula, visto que a parábola se limita ao que é humano e possível.”
A parábola, então, envolve muitos
elementos da vida diária e corresponde uma história que é facilmente entendida
por seus ouvintes. Segundo George Eldon Ladd (2003, p.126) “uma parábola é uma
estória extraída da vida diária, com a finalidade de comunicar uma verdade de
cunho moral ou religioso”. Logo, as parábolas são recursos que quando
empregados no ensino de Jesus, deve-se ter em consideração todo o contexto
histórico empregado no processo narrativo para sua compreensão correta.
De acordo com Joachim Jeremias
(2007), as parábolas devem ser entendidas tento em seu contexto histórico como
em toda a mensagem de Jesus e que delas deve ser extraído uma única ideia,
sendo esta a mais geral possível. As parábolas apresentam tanto o contexto
histórico, que deve ser entendido na vida diária das pessoas, quanto um
contexto do ministério de Jesus, e a partir de ambos o único significado deve
ser extraído, segundo Joachim Jeremias (2007, p. 15):
“As parábolas de Jesus não são - em todo caso não
primariamente – obras de arte, nem querem inculcar somente princípios gerais,
mas cada uma delas foi pronunciada numa situação concreta da vida de Jesus, situação
única e muitas vezes imprevista. Muitas vezes, e até mesmo no mais das vezes,
trata-se aí, como veremos, de situações de conflito, de justificação, de
defesa, de ataque e até mesmo de desafio: as parábolas são, não exclusivamente,
mas em grande parte armas de luta. Cada uma delas exige uma resposta concreta e
imediata.”
Esse método de ensino utilizado por Jesus não era uma inovação em seus
dias, alguns dos principais mestres da lei eram conhecidos pela habilidade de
construir esses tipos de histórias com o objetivo de ensinar alguma lição de
moral (Tenney, 2008). Os maiores rabinos nos dias de Cristo eram especialistas
no mashal, que consiste em tomar uma
situação da vida real e moldar essa verdade de forma a extrair um princípio
geral, ou seja, fornecer ao público em ensinamento entendível para dele ser
compreendida uma lição moral ou espiritual (Daniel-Hops, 2008). Jesus
certamente conhecia esse método de ensino e com sua autoridade assim o empregou
nas parábolas.
Contudo, as parábolas nem sempre foram entendidas dessa maneira direta e
simples. Nos primeiros séculos após a morte de Cristo, as parábolas sofreram
diversas formas de interpretação inadequadas e impróprias. Muitas delas foram
tratadas muito tempo como alegorias, estendendo-se essa forma de interpretação
pelos séculos adiante e ocultando assim o real sentido desse recurso (Jeremias,
2007). Agostinho, por exemplo, fez uma interpretação muito alegórica da
parábola do Bom Samaritano, atribuindo significado a elementos do texto que distanciam
completamente o leitor da verdade que Jesus procurou transmitir (Fee &
Stuart, 1997).
Em vista disso, as parábolas são recursos literários muito difíceis de
ser definido, pois tal conceituação pode ofuscar o seu real uso como método de
ensino no ministério de Jesus. Porém, sabemos que a sua interpretação é única e
necessita de seu contexto histórico para ser mais bem entendida e assim não desviar
seu significado para alegorias ou sentidos que Jesus jamais pensou em
transmitir.
3 As principais
características das parábolas
Jesus ensinou grande parte
do seu ministério através de parábolas. As parábolas, como dito anteriormente,
são histórias com elementos da vida diária com o intuito de transmitir uma
verdade espiritual, porém Jesus disse aos seus discípulos: “A vós é confiado o
mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para
que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que
não se convertam e sejam perdoados” (Mc. 4:11-12). Essa declaração de Jesus não
significa que Ele queria ocultar a verdade aos que não pertenciam ao seu
círculo de discípulos, mas produzia nos ouvintes uma ausência de compreensão do
real significado do seu ministério, pois compreendiam a história, mas não
reagiam favoravelmente as palavras de Jesus (Fee & Stuart, 1997), além de
tronar-se instrumento de julgamento (Kaiser & Silva, 2009) para os corações
endurecidos de seus ouvintes.
O principal objetivo da
parábola era confrontar o público a tomar uma decisão ou a favor ou contra o
ministério de Jesus, enquanto que para os discípulos elas transmitiam verdades
espirituais que os confrontavam a crescer espiritualmente (Osborne, 2009). Além
disso, as parábolas são instrumentos de Deus para a revelação de sua verdade ao
seu povo (Kaiser & Silva, 2009). Portanto, as parábolas confrontam o homem
caído a reagir ao Deus que trouxe a salvação através de seu filho Jesus Cristo
e transmitem as verdades eternas antes ocultas aos homens.
Por isso as parábolas são narrativas simples e
de fácil compreensão (Kaiser & Silva, 2009). A forma que é contada cativa o
ouvinte e o faz refletir acerca de seus atos (Fee & Stuart, 1997). Por
exemplo, temos a parábola do Bom Samaritano (Lc. 10:25-37) que Jesus narrou em
resposta ao doutor da lei que perguntou quem era o seu próximo, constituindo
uma estória de um enredo simples e de fácil compreensão. Porém, devido a nossa
distância temporal e cultural muitas vezes não compreendemos a verdade por trás
de uma parábola, para isso temos que tentar reconstruir todo esse cenário
histórico para chegar ao sentido original das parábolas de Jesus (Jeremias,
2007).
George Eldon Ladd (2003)
cita dois cânones de interpretação necessários para uma compreensão histórica
das parábolas. O primeiro determina que as parábolas não devem ser
interpretadas como se fossem alegorias. Segundo Kaiser e Silva (2009), “alegoria
é uma metáfora estendida, enquanto que parábola é um símile estendido”, ou
seja, é uma comparação expressa e afirmada. O segundo princípio de
interpretação determina que as parábolas devem ser interpretadas dentro do
contexto histórico da vida e do ministério de Jesus, e não na vida da igreja
(Ladd, 2003).
Outra característica
importante das parábolas é a identificação dos pontos de referência que levam o
ouvinte a compreender a moral de toda a história (Fee & Stuart, 1997). As
parábolas muitas vezes são enriquecidas com alguns detalhes que são sem
importância para a transmissão de seu significado, muitas vezes usado somente
para enfatizar uma verdade. As parábolas apresentam somente um único ponto
importante, uma única mensagem ou ponto fundamental, desafiando o leitor a
responder conforme essa verdade lhe confronta (Osborne, 2009). Como por
exemplo, a parábola do Filho Pródigo (Lc. 15:11-32) que centraliza o amor e a
graça de Deus e produz no ouvinte uma reação a esse tamanho amor derramado pelo
pai em direção ao seu filho pródigo (Ladd, 2003).
Algumas parábolas são
repetidas e proferidas em situações diferentes por Jesus. Jesus em seu ministério
pela Palestina muitas vezes usava as parábolas em mais de um lugar, dependendo
de seu público e do ensinamento que queria transmitir. Por exemplo, a parábola
da ovelha perdida é usada em Mateus 12:12-14 para os discípulos e em Lucas
15:1-7 para os fariseus (Osborne, 2009). Por isso, jamais devemos retirar a
parábola de seu cenário histórico e da disposição que o evangelista organizou
em sua narrativa nos evangelhos, pois por serem passagens bíblicas devem ser
interpretadas dentro de seu contexto (Fee & Stuart, 1997).
Em
vista disso, precisamos ter em mente a forma como os evangelistas organizaram
as suas narrativas e a maneira em que eles utilizaram essas parábolas dentro de
seus relatos (Kaiser & Silva, 2009). Para uma melhor compreensão da
mensagem de Jesus, o ideal seria ler o evangelho de uma única vez, de forma a
compreender toda a mensagem e assim entender as parábolas dentro de seu
contexto maior, levando em consideração a essência que o autor bíblico
transmitiu em toda sua obra (France, 2009).
A
presença do reino de Deus é outra característica importante nas parábolas e
necessária para sua compreensão. O ministério de Jesus inaugurou uma nova era
em que o reino entrou de forma oculta, atuando secretamente entre os homens na
esfera histórica do mundo, ou seja, “cumprimento sem consumação” (Ladd, 2003).
Algumas parábolas descrevem o processo atual de crescimento do reino, como a parábola
da semente de mostarda (Mc. 4:30-32) ou o fermento (Mt. 13:33); a necessidade
de estar sempre alerta, como a parábola das dez virgens (Mt. 25:1-13); o uso
correto dos bens terrestres, como demonstrado pela parábola do mordomo infiel
(Lc. 16:1-12) e a necessidade do uso coreto dos dons, pois todas as obras serão
julgadas, visto na parábola dos talentos (Mt. 25:14-30).
As
parábolas nos revelam verdades eternas transmitidas através do ensinamento
único de Jesus. Durante seu ministério, Cristo, proclamou o arrependimento e o
perdão dos pecados de todos aqueles que depositassem toda a confiança Nele. Por
isso, suas parábolas exerceram um papel fundamental na proclamação da salvação,
exigindo uma resposta urgente do público que ouvia suas palavras (Osborne,
2009). As parábolas de Lucas 15, da ovelha perdida, dracma perdido e do filho
pródigo, demonstram claramente o poder gracioso de Deus de perdoar e salvar
pecadores, exigindo uma única resposta do público, ou de aceitação ou de
rejeição.
Em
suma, as parábolas eram narrativas que utilizam elementos do cotidiano para
transmitir verdades espirituais, e por isso produzia uma reação no ouvinte que
compreendiam a “moral da história”, mas ignoravam o sentido total do ministério
de Jesus, tornando-se para esses, instrumento de julgamento; e para os
discípulos um meio para o crescimento e aperfeiçoamento na verdade. As
parábolas também devem ser compreendidas dentro de seu contexto histórico e
dentro da disposição que o evangelista organizou na obra, além da importância
do o reino de Deus que foi inaugurado no ministério de Jesus. Todas essas
características são importantes e devem ser levadas em consideração para uma
interpretação adequada das parábolas de Jesus.
4 Princípios hermenêuticos
A interpretação adequada de uma
parábola é de extrema importância, pois somente depois de entendida é que ela
poderá ser aplicada em nossas vidas. A hermenêutica, com seus métodos,
contribui grandemente nesse processo e por isso não devemos negligenciá-los
durante esse processo interpretativo. Grant Osborne (2009, p. 386) nos diz a
respeito:
“Sem uma interpretação
perde-se o poder da parábola, porque toda parábola deve ser compreendida antes
de ser aplicada. Seu “poder evocativo” é melhor discernido quando se entende o
que Jesus pretendeu; isto é, de acordo com o pano de fundo do século I e com o
contexto do próprio Evangelho. De qualquer modo, não devemos reduzir a parábola
a uma simples análise palavra por palavra. É preciso preservá-la para que sua
capacidade de surpreender e comover o ouvinte não se perca.”
De
acordo com Gordon Fee (1997) a identificação dos pontos de referências é que
leva o ouvinte ou leitor a captar a lição de uma parábola. Esses pontos de
referências são as partes da história que permite ao ouvinte penetrar nesse
universo ficcional, de tal maneira que permite a sua identificação completa com
os personagens ou elementos presentes na história. A lição ou moral da história
encontra-se na resposta pretendida (Fee & Stuart, 1997).
A identificação
do auditório é outro ponto importante enfatizado por Gordon Fee (1997). Visto
que, os ouvintes a quem Jesus dirigiu a parábola geralmente estão interessados
em algum ponto específico de seu ensino, conforme a descrição no relato dos
Evangelhos. A reconstrução desse cenário em que a parábola foi originalmente
ouvida é importante para a identificação dos pontos de referências e com os
ouvintes originais ouviram e reagiram a história (Fee & Stuart, 1997).
Segundo Grant Osborne
(2009) alguns princípios hermenêuticos devem ser considerados para um processo
interpretativo adequado de uma parábola. Em primeiro lugar ele recomenda a
observação do cenário no qual a parábola se situa, ou seja o contexto tanto da
vida e ministério de Jesus quanto da disposição dentro do Evangelho, assim como
também o público ouvinte da histórica. Em segundo, Osborne recomenda o estudo
da estrutura da parábola, observar os pontos de referências, o estilo
narrativo, as viradas inesperadas, o clímax e as ações dos personagens dentro
da história.
Osborne (2009) recomenda
alguns outros princípios, como a compreensão do contexto histórica da Palestina
nos dias de Cresto, visto que as parábolas sempre possuírem como pano de fundo
algum evento do cotidiano do público a quem esta está sendo direcionada. Gordon
Fee (1997) recomenda que se faça uma tradução da parábola para o nosso
contexto, ou seja uma reformulação com novos pontos de referência para
reproduzir a reação similar dos primeiros ouvintes.
Outro princípio para uma
interpretação, segundo Osborne (2009), consiste em determinar os pontos
principais de uma parábola, sendo esses pontos geralmente relacionados ao
contexto em que a parábola se encontra. Em seguida, Osborne recomenda que se
relacione os pontos ao ensino do reino por Jesus e à mensagem básica de cada
evangelho, observando sempre o contexto literário.
Por fim, Osborne (2009),
aconselha o leitor a não buscar fundamentos para doutrinas tendo com base as
parábolas, pois nesse caso o melhor seria o estudo sistemático para uma melhor
fundamentação. Osborne também recomenda a aplicação das ideias centrais em
nossa vida cotidiana e também que o pregador deve analisar a parábola de
maneira integral, sem fragmentação, para assim transmitir seu sentido ideal
conforme foi pronunciada por Jesus.
É necessário, então, mais
cuidado durante o processo interpretativo de uma parábola. O leitor na busca de
uma compreensão mais adequada e real do ensino de Jesus deve estar disposto a
buscar os pontos de referências e reconstruir todo o cenário original em que a
parábola foi apresentada por Cristo aos seus ouvintes. O nosso contexto por se
encontrar tão distante do original atrapalha a nossa compreensão da reação do
público e uma reconstrução do cenário para os nossos dias seria de uma grande
ajuda para um melhor entendimento.
5 Uma análise da parábola do Bom Samaritano (Lc.
10:25-37)
O
cristianismo primitivo mesmo com seus brilhantes teólogos, interpretou grande
parte das parábolas de maneira alegórica, fugindo completamente da verdade o
qual Jesus procurou transmitir. Agostinho, por exemplo, alegorizou a parábola
do Bom Samaritano, atribuindo significado aos elementos presentes na parábola
que distancia grandemente o real significado desta (Fee & Stuart, 1997).
Segundo
J. C. Ryle (2002, p.179) a parábola do Bom Samaritano “tem por objetivo mostrar
a natureza do verdadeiro amor fraternal. Perder de vista este objetivo e
procurar alegorias profundas na parábola equivale a vulgarizar as Escrituras e
privar nossas almas de valiosas lições”. Portanto, devemos cautelosamente
analisar essa parábola sempre baseado em todos os princípios hermenêuticos já
citados anteriormente.
Observando
o cenário da parábola vemos que Jesus está discutindo com um certo intérprete
da lei acerca da qualificação para a vida eterna. Jesus responde ao homem com
uma pergunta voltada para o que se encontra escrito na Lei Mosaica,
apresentando a mesma resposta dada por Jesus em Marcos 12:29-31 (Marshall,
2009). O intérprete da lei resume toda ela em amar a Deus acima de todas as
coisas e o próximo como a ti mesmo. Segundo Marshall (2009, p. 1502) “o
intérprete foi humilhado por essa resposta, e tentou recuperar forças ao pedir
uma definição mais precisa da palavra próximo”.
Jesus,
então, em resposta a pergunta do intérprete da lei “Quem é meu próximo?” conta
então a parábola do Bom Samaritano. Na parábola há somente dois pontos de
referências: o homem deixado semimorto no caminho e o samaritano (Fee &
Stuart, 1997). A estrada por qual o homem descia de Jerusalém para Jericó, era
uma estrada solitária, de 27 quilômetros , bastante perigosa devido à
susceptibilidade aos assaltos (Jeremias, 2007). Outro detalhe interessante era
que nessa região moravam alguns sacerdotes que longe dos afazeres do templo
muitas vezes transitavam por esses caminhos (Marshall, 2009).
Portanto,
após o homem ter sido assaltado e deixado em estado miserável, Jesus introduz a
figura de dois tipos sacerdotais, um sacerdote e um levita, sendo que a atitude
dos dois é mesma, ou seja, ignorar o tal homem. Dois pontos importantes
precisam ser notados: Jesus contrasta a classe sacerdotal com os fariseus e
rabinos, que são os peritos na Lei e os fariseus amavam o próximo através de
suas ofertas aos mais pobres (Fee & Stuart, 1997). Esse fato poderá ter
feito o intérprete da lei a pensar que Jesus em seguida introduziria um fariseu
na história para exercer finalmente misericórdia para com o homem (Fee &
Stuart, 1997), enquanto que a platéia provavelmente esperava um judeu leigo
(Jeremias, 2007).
Contudo,
Jesus introduz uma figura inesperada. Os samaritanos eram vistos pelos judeus
como um povo impuro e indesejável, e por isso nutriam um ódio imenso por esse
povo (Daniel-Hops, 2008). Alguns judeus acreditavam que os samaritanos eram
descendentes do povo assírio que ocupou Israel durante o exílio babilônico, que
através de casamento misto se introduziram na cultura israelita e colocaram
ídolos no santuário do povo de Israel. Além disso, os samaritanos se opuseram a
reconstrução da nação liderada por Esdras (Coleman, 1991). Durante a profanação
do templo por Antíoco Epifânio IV, obrigando os judeus a sacrificar porcos no
templo e adorar deuses pagãs, os samaritanos obedeceram integralmente às ordens
de Antíoco e negaram seus antecedentes judaicos, aumentado ainda mais o ódio
que os judeus viam acumulando por esse povo (Tenney, 2010).
Portanto,
nos dias de Cristo o ódio dos judeus pelos samaritanos havia alcançado o seu
clímax, em certa ocasião os samaritanos atiraram ossos humanos no santuário do
templo, profanando o lugar e impedido o seu uso (Daniel-Hops, 2008). Segundo Henri
Daniel- Hops (2008, p. 54), “um provérbio corrente, registrado no Talmude,
dizia que um pedaço de pão dado por um samaritano era mais impuro do que carne
de porco. Partindo, então, desses fatos históricos podemos ter uma noção da
posição do samaritano entre os judeus e porque Jesus então introduz esse
personagem na parábola.
O
samaritano, ao contrário do sacerdote, ao ver o homem ferido cuidou de seus
ferimentos, levou-o para uma hospedaria e tratou dele, no dia seguinte ordenou
ao hospedeiro que cuidasse do homem e pagou por esse serviço. Jesus ao escolher
o samaritano usou um exemplo extremo, segundo Marshall (2009, p. 1502) “para
mostrar como até mesmo um samaritano pode estar mais perto do Reino do que um
judeu piedoso, mas pouco caridoso”.
Jesus,
então, ao responder a pergunta do intérprete da lei com essa parábola
desmascara completamente toda a justiça própria que tinha esse homem no seu
coração. Jesus declara a falta de conhecimento que tinham esses mestres da lei
em relação ao verdadeiro amor ao próximo, que não pode ser definido em termos
limitantes (Fee & Stuart, 1997). Jesus então expõe o comportamento dos
judeus que se achavam caridosos no ato de dar esmolas, porém faltava
completamente o amor nesses atos. O intérprete não necessitava de conhecimento,
mas de um novo coração (Marshall, 2009).
Portanto,
o verdadeiro significado da parábola do Bom Samaritano e demonstrar que o nosso
“próximo” são as pessoas que se encontram em necessidade, sejam elas amigos ou
não. Segundo J. Jeremias (2007, p. 204) “”próximo”, diz Jesus com esta
parábola, com certeza deve ser para você primeiramente o seu concidadão, mas
não só ele, com também todo aquele que precisar de sua ajuda”. A lição, então,
da parábola é que nosso próximo é sempre o necessitado de ajuda e nossa bondade
deve ser refletida em atos e em verdade (Ryle, 2002).
6 O que as parábolas significam hoje?
Tendo
em vista ao que foi dito anteriormente em relação ao nosso distanciamento
cultural, temporal e histórico, muito da lição da parábola é perdido para o
leitor no contexto atual. Os pontos de referências muitas vezes são obscuros e
a tendência a se alegorizar as parábolas distanciam o leitor ainda mais da
verdadeira lição que Jesus intentou transmitir (Fee & Stuart, 1997).
Alguns
autores, como Gordon Fee e Grant Osborne, recomendam que as parábolas sejam
recontadas no contexto atual, com novos pontos de referências de tal maneira
que o mesmo sentimento da platéia original seja experimentado pelo público
moderno. Contudo, deve-se antes fazer uma exegese cuidadosa do texto antes de
experimentar esse método (Fee & Stuart, 1997) e recontar a parábola à luz
da informação histórica (Osborne, 2009).
Portanto,
instruir o leitor a buscar eventos históricos e culturais é de extrema
importância para uma melhor compreensão das parábolas de Jesus. O leitor por
sua vez ganha autonomia e compreende melhor o que Cristo quis dizer em seu
ensino. A parábola do Bom Samaritano é um exemplo disso, pois muitos em nossos
dias se dizem caridosos, mas se comportam como “sacerdotes” e “levitas” ao ver
um necessitado (Ryle, 2002). Segundo J. C. Ryle (2002, p. 180) “a bondade
sacrifical de coração, que não se preocupa com o custo envolvido em sua
prática, é uma virtude bastante rara entre nós”. Em nossos dias tais atos são
mais ainda desprezados pelo mundo, por isso os crentes precisam refletir mais
essa natureza de amor sacrifical presente no Senhor Jesus transmitidos nessa
parábola (Ryle, 2002).
7 Conclusão
O
ensino de Jesus foi registrado pelos evangelistas e grande parte dele foi dado
por meio de parábolas. As parábolas foram ditas para transmitir uma verdade
eterna e por isso usam elementos diários de tal forma que fosse facilmente
entendida por todos. O problema é que ao longo da história sofreu alegorização
e o trouxe conclusões que Jesus jamais pensou em transmitir (Fee & Stuart,
1997).
Para
um entendimento dos evangelhos é de fundamental importância uma boa
interpretação das parábolas da maneira que Jesus ensinou aos seus ouvintes. As
histórias contadas por Jesus geralmente eram direcionadas a plateia que ele
tinha intenção de ensinar uma lição, por isso eram ensinos claros e concretos,
para alguns era uma forma de crescimento já para outros era instrumento de julgamento
(Kaiser & Silva, 2009).
Portanto, um entendimento adequado
das parábolas exige do leitor a identificação dos pontos de referências e do
auditório alvo (Fee & Stuart, 1997), além do contexto histórico, cultural e
social de Israel; o cenário, os pontos importantes da narrativa, da escatologia
e ética do reino (Osborne, 2009) e o contexto literário que os escritores
bíblicos localizaram a parábola no ministério de Jesus e na igreja primitiva
(Kaiser & Silva, 2009). Por isso, tais princípios devem ser aplicados para
uma melhor interpretação das parábolas.
8 Referências Bibliográficas
BÍBLIA SAGRADA. Almeida
Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
BUCKLAND, A. R.; WILLIAMS, L. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vida, 2007.
COLEMAN, W. L. Manual
dos tempos e costumes bíblicos. Belo Horizonte: Editora Betânia, 1991.
DANIEL-ROPS, Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2008.
FEE, Gordon; STUART, Douglas. Entendes o que lês? São Paulo: Vida Nova, 1997.
FRANCE, R. T. “Como
ler os evangelhos”. Em Comentário bíblico: Vida Nova. Eds. Carson, D. A.; France, R.T.; Motyer,
J.A.; Wenham, G.J., p. 1346-1356. São Paulo: Vida Nova, 2009.
JEREMIAS, Joachim. As parábolas de Jesus. São Paulo: Paulus, 2007.
KAISER, Walter C.; SILVA, Moisés. Introdução à hermenêutica: como ouvir a
palavra de Deus apesar dos ruídos de nossa época. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009.
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.
MARSHALL, I. H. “Lucas”.
Em Comentário bíblico: Vida Nova. Eds. Carson, D. A.; France, R.T.; Motyer, J.A.; Wenham, G.J., p. 1472-1535. São
Paulo: Vida Nova, 2009.
OSBORNE, Grant. A
Espiral hermenêutica. São Paulo: Vida Nova, 2009.
RYLE, J. C. Meditações
no evangelho de Lucas. São Paulo: Editora Fiel, 2002.
TENNEY, M. C. O
novo testamento sua origem e análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008.
TENNEY, M. C. Tempos
do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de
Deus (CPAD), 2010.
Muito bom artigo,parabéns
ResponderExcluirARÁBOLAS DO MESTRE
ResponderExcluirOlá amigos!
Jesus na sua imensa sabedoria deixou-nos ensinamentos intemporais e que quando bem utilizados tornam a nossa vida mais plena. Ele sabia que a melhor forma de revelar o coração do seu Pai aos homens era através de abordagens simples, de forma a serem compreendidas facilmente por nós todos.
A maior expressão disto mesmo são as suas parábolas, que através do seu poder ilustrativo se apresentam para nós como verdadeiras lições de vida.
Para melhor compreendermos qual o seu real significado é importante antes de tudo compreender qual é o significado da palavra Parábola. Assim, "Parábola", é originária da palavra grega, parabole, vem de um verbo grego que significa "atirar para o lado". Uma parábola é uma história que coloca uma coisa ao lado de outra com o propósito de ensinar. É uma comparação, colocando o conhecido ao lado do desconhecido. Uma narração alegórica que encerra algum preceito moral ou verdade importante.
Devido à incerteza do que exatamente constitui uma parábola, as listas das parábolas de Jesus que têm sido compiladas variam em extensão de acordo com o julgamento do compilador. Mas de uma coisa se tem a certeza... Parábolas não são fábulas ou mitos, tampouco não há elementos irreais ou situações impossíveis nelas. Assim, a força das Parábolas está em serem absolutamente concebíveis e na plausibilidade das circunstâncias que elas descrevem. Elas falam de situações familiares, da vida real.
Este texto é então somente o começo do meu singelo presente de Natal para todos os amigos deste fórum, de forma a refectirmos em conjunto nestas narrativas maravilhosas que nos convidam a olhar para Deus. Espero que gostem!
Beijinhos
Andreia
ARÁBOLAS DO MESTRE
ResponderExcluirOlá amigos!
Jesus na sua imensa sabedoria deixou-nos ensinamentos intemporais e que quando bem utilizados tornam a nossa vida mais plena. Ele sabia que a melhor forma de revelar o coração do seu Pai aos homens era através de abordagens simples, de forma a serem compreendidas facilmente por nós todos.
A maior expressão disto mesmo são as suas parábolas, que através do seu poder ilustrativo se apresentam para nós como verdadeiras lições de vida.
Para melhor compreendermos qual o seu real significado é importante antes de tudo compreender qual é o significado da palavra Parábola. Assim, "Parábola", é originária da palavra grega, parabole, vem de um verbo grego que significa "atirar para o lado". Uma parábola é uma história que coloca uma coisa ao lado de outra com o propósito de ensinar. É uma comparação, colocando o conhecido ao lado do desconhecido. Uma narração alegórica que encerra algum preceito moral ou verdade importante.
Devido à incerteza do que exatamente constitui uma parábola, as listas das parábolas de Jesus que têm sido compiladas variam em extensão de acordo com o julgamento do compilador. Mas de uma coisa se tem a certeza... Parábolas não são fábulas ou mitos, tampouco não há elementos irreais ou situações impossíveis nelas. Assim, a força das Parábolas está em serem absolutamente concebíveis e na plausibilidade das circunstâncias que elas descrevem. Elas falam de situações familiares, da vida real.
Este texto é então somente o começo do meu singelo presente de Natal para todos os amigos deste fórum, de forma a refectirmos em conjunto nestas narrativas maravilhosas que nos convidam a olhar para Deus. Espero que gostem!
Beijinhos
Andreia